terça-feira, 23 de agosto de 2011

Considerações sobre D. Carolina Ribeiro

Quando eu comecei a pesquisar o acervo da escola, me deparei com fotos de professores antigos , de uma época remota, que , para mim  pareceu coisa do “tempo do onça” e me passou pela cabeça: Graças a D”us que estudei naquela escola em outra época. 
Sim , porque ao entrar na escola, no Jardim da Infância em 1969, a moda era mini-saia e jovem-guarda e nem as professoras deixavam de usar suas saias à um palmo acima do joelho, como a maioria da população feminina com menos de 40 anos.
 Aquelas professoras com roupas escuras e pesadas, óculos e cabelos brancos que apareciam no Caetano de Campos de antigamente, me passav am a idéia de uma escola antiquada, daquelas que aluno até apanhava de palmatória.
À medida que fui me aprofundando e conhecendo melhor o acervo, me deparei com uma figura que me chamou muito a atenção: a diretora Carolina Ribeiro.
Essa mulher, de cabelos brancos, óculos e roupas pesadas, como eu descrevi acima não era nada, nadinha daquilo que eu imaginei.
Em primeiro lugar, apesar dos cabelos brancos, ela não era idosa. Ingressou como diretora do primário em 1935, aos 43 anos. Essa D. Carolina era de uma competência e disposição,  em 1939 entrou como diretora superintendente, realizou coisas impressionantes, numa época em que a comunicação estava engatinhando e em 1955 foi nomeada a primeira Secretária da Educação do país.
Quando essa mulher, resolvia, de uma hora pra outra, inventar um projeto, por mais louco e impossível, ele se tornava realidade. Vou dar três exemplos: um belo dia ela resolve que todas as escolas do estado devem comemorar o centenário da criação do Ensino Normal,pois como a nossa foi a primeira escola, criada em 1846, algo deveria ser feito à respeito.
Mandou assim um recado para todas as escolas, via correio, telefone do prefeito, ou coisa parecida exigindo várias solicitações para serem atendidas:

1-a criação de uma sub-comissão, para entrar em contato com a comissão central, que seria ela,
2-que colhessem a maior soma de documentos referentes à história e a vida da escola local,
3-que enviassem o nome dos professores diplomados desde o início do seu funcionamento até a época atual,
4-que providenciassem material fotográfico e outros como moveis, objetos e material escolar, trabalhos e referências de alunos e ex-alunos nas diversas áreas para a construção de um museu do ensino normal de São Paulo
5-que  providenciassem , o mais rápidamente possível uma missa para ser celebrada com um padre local
6-que , com boa vontade sugiram algo de bom para abrilhantar o evento.

Isso foi pedido no dia 19 de fevereiro de 1946, sabe pra quando era pra ser providenciado toda a lista acima?
Para o dia 16 de março ( no mês seguinte!!!), e o piór:
Todo mundo fez exatamente tudo o que ela solicitou, foi feito um documento chamado  "Comemorações do Primeiro Centenário do Ensino Normal ", com o relatório da comissão organizadora citando isso, imaginem hoje em dia, com todos os meios de comunicação não ia ser realizado de jeito nenhum! Im-pos-sí-vel!
Percebi, então o seu poder : D. Carolina não pedia, ela mandava. E todos o atendiam. Até Getúlio Vargas se baseava nos trabalhos dirigidos por ela, para aplicar em outras escolas.
Num outro projeto, ela cisma que tem muito adulto analfabeto e cria uma espécie de gincana premiada entre as escolas normais para ver quem alfabetiza mais gente.
Arrumou um número enorme de patrocinadores que doaram prêmios, inclusive somas em dinheiro, para ser entregues as escolas e normalistas  ganhadoras. Lançou o desafio em 1* de março de 1946, seguindo as comemorações do centenário do ensino normal.No dia 10 de dezembro encerrou a campanha. No ano seguinte, sem a ajuda do governo, as escolas organizaram festas, tiveram auxílio de comerciantes locais e particulares e o resultado em um ano foi de 2.000 adultos alfabetizados em todo o estado.
Como as pessoas eram focadas e determinadas naquela época!
Não bastando os dois projetos acima, executou diversas comemorações durante o ano, dentro e fora da escola, e resolveu aceitar a sugestão de um escritor chamado Edmundo de Amices , que através do Presidente do Centro Sorocabano de Letras, sr, Renato Sêneca Fleury, requisitaram à D. Carolina Ribeiro que organizasse uma mostra de livros escritos por professores das diversas escolas normais do país.
Ela reune então várias editoras, como a Melhoramentos, Livraria Alves, Anchieta, Paulicéia, todas da capital e Acadêmica,Lira, Vozes de Petrópolis, e de muitos outros estados, que armam “stands”em várias salas de aula de todo o primeiro andar do prédio da escola.
Além das editoras reune trabalhos desenvolvidos por professores, normalistas, como plano de aulas, teses, etc, assim ocupando 18 salas de aula e ainda organizando uma mostra de artes com música, pintura e escultura no foyer do auditório com a ajuda do prof. Carlos Alberto Gomes Cardim. O projeto foi lançado dia 9 de outubro de 1946, a inauguração foi dia 19 de novembro daquele ano, como um projeto daquele tamanho poderia ser feito em tão pouco tempo, inacreditável!
Os jornais da época noticiavam tudo o que acontecia dentro da escola. Se saísse alguma matéria como: haverá amanhã, no Jardim da Infância palestra com fulano, já era subtendido que jardim da infância era do Caetano de Campos. Ou se haverá encontro com tal escritor na escola Normal, era a do Caetano de Campos. A escola era o foco principal, em se tratando de educação pública na cidade. As matérias eram citadas nos seguintes jornais:" Folha da Manhã ", " A Noite ", "Estado de São Paulo ", "Correio Paulistano ", " A Gazeta ",  "Diários associados ",  "Jornal de notícias ",  "Jornal trabalhista ".
 D. Carolina teve a colaboração de várias empresas e pessoas físicas, conseguindo a verba para a construção do teatro que foi inaugurado em 1941.
Reformou toda a biblioteca infantil, na época dirigida por Iracema Marques da Silveira, mudou a alimentação das crianças na escola com o projeto do lanche saudável e instalou um refeitório infantil; ajudou o centro de puericultura, fez campanhas em prol de inúmeras instituições de caridade. Participou de um número enorme de comemorações cívicas com festas, discursos desfiles e apresentações de ginástica, recebeu autoridades do Brasil e do mundo, organizou paletras, visitou autoridades, escreveu poesias, ajudou na criação do Jornal Nosso Esforço, criado em 1936; incentivou muitos professores a desenvolver métodos de ensino que transcendeu as paredes da escola.
Era admirada e respeitada por alunos , professores e funcionários. Nunca se casou. Dedicou a vida à educação.
Em 1975 , com idade avançada dirigiu a associação dos ex-alunos e brigou para a preservação do prédio do Caetano e sua continuidade como escola. Faleceu em 1982, aos   90 anos.
Mudei de idéia : depois de tudo que li e vi em fotos e documentos, pra mim, esta foi uma das figuras mais extraordinárias e importantes para a continuidade da qualidade de ensino e da imagem de nossa escola, e não são roupas escuras e cabelos brancos que a impediram de transformar a escola em exemplo daquela qualidade e modernidade . Obrigada, D. Carolina.



D. Carolina mantinha um relacionamento amistoso com diversas autoridades, entre eles Adhemar de Barros e até mesmo Getúlio Vargas


     Sem data- Acima visita com as alunas o jornal "Correio Paulistano"- vários jornais publicavam notícias sobre a escola, entre estes A " Folha da Manhã"

                          1944- Visita de Assis Chateaubriand, diretor dos "Diários Associados"

                                                        1955- Correio Paulistano

                Em 1955 é nomeada por Jânio Quadros a primeira Secretária de Educação do Brasil




                                                  1955- ao assumir a Secretaria

                 1966- discurso no teatro municipal , em ocasião aos 70 anos do Jardim da Infância

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